SÃO PAULO – O estoque de crédito dos grandes bancos interrompeu, no segundo trimestre, uma trajetória de queda iniciada há dois anos e meio. Itaú Unibanco, Banco do Brasil (BB), Bradesco e Santander chegaram ao fim de junho com um total de R$ 2,2 trilhões em empréstimos e financiamentos. O volume aumentou 4,3% em um ano, praticamente empatando com a inflação nesse período.
Foi o melhor desempenho anual desde o terceiro trimestre de 2015, última vez em que o crédito cresceu acima da variação do IPCA, segundo o Valor Data. Em março, o crédito já havia mostrado um pequeno aumento nominal, mas ainda encolheu em termos reais.
A reação do crédito veio acompanhada de uma nova queda no risco de calotes, e essa combinação foi decisiva para levar os bancos a mais uma safra de resultados em alta. O lucro combinado das quatro maiores instituições financeiras de capital aberto somou R$ 17,8 bilhões no segundo trimestre, o que representa alta de 12,3% na comparação com o mesmo período do ano passado. Analistas consultados pelo Valor esperavam R$ 18 bilhões.
O crescimento no volume de crédito visto no segundo trimestre veio sobretudo dos segmentos de pessoa física e micro, pequenas e médias empresas, definidos como prioritários pelos bancos na estratégia para o pós-crise. No entanto, os balanços também mostraram uma melhora — ainda que muito discreta — nas operações com empresas, mesmo com a greve dos caminhoneiros em maio.
A expectativa dos bancos é que o crédito continue em aceleração nos próximos meses, apesar das incertezas eleitorais. “Não vejo razão para que o ímpeto de crescimento do crédito que a gente tem visto desacelere no segundo semestre”, disse Sergio Rial, presidente do Santander Brasil, na divulgação dos resultados do banco.
O crescimento dos empréstimos e financiamentos, porém, ficou concentrado nos bancos privados. O BB ainda mostrou queda na carteira, mas a expectativa é que a recuperação comece a aparecer com a conclusão de um processo que o presidente da instituição, Paulo Caffarelli, qualificou de “limpeza” da carteira.
De forma geral, as instituições conseguiram driblar a tendência de queda nos spreads ao ajustar o foco para linhas mais rentáveis e de menor risco. Empréstimos consignados, financiamento imobiliário e de veículos, e operações com pequenas companhias lastreadas em recebíveis deram o tom nos negócios. Spread é a diferença entre a taxa que uma instituição financeira paga ao captar recursos e a que cobra para emprestar dinheiro.
A demanda de grandes empresas permaneceu fraca, mas o segmento deixou de piorar. Santander e Bradesco mostraram crescimento anual no crédito a pessoas jurídicas, mas ainda não veem uma retomada mais forte pelo menos até que passem as incertezas do período eleitoral. “O cenário não mudou”, afirmou Carlos Firetti, diretor de relações com o mercado do Bradesco.
“O resultado pode parecer surpreendente, mas para nós não”, disse o presidente-executivo do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, numa referência à estratégia de buscar operações mais rentáveis e menos arriscadas.
Um ambiente menos negativo para as empresas e o foco em operações com garantias mais fortes também contribuíram para uma redução significativa do chamado custo do crédito. As despesas dos bancos com provisões para devedores duvidosos (PDD) somaram R$ 13,2 bilhões entre abril e junho. O número mostra queda de 24,3% frente ao mesmo período do ano passado e é menos da metade da cifra registrada no primeiro trimestre de 2016, pior momento da crise.
Diante da melhora, Itaú, BB e Bradesco reduziram suas projeções para despesas com provisões neste ano. O Santander não divulga estimativas ao mercado.
O alívio nas despesas com PDD, ao lado de um forte aperto nos custos operacionais, ajudou os bancos a contrabalançar a pressão na margem financeira. Com exceção do Santander, os demais tiveram queda no indicador nos três meses encerrados em junho. O impacto não veio só das operações de crédito, mas também da tesouraria e do efeito contábil da Selic mais baixa sobre o patrimônio líquido.
Embora a atividade econômica esteja aquém do esperado, os grandes bancos vislumbram um ambiente mais promissor à frente. “Vemos uma tendência clara de crescimento dos resultados”, afirmou o presidente do Itaú, Candido Bracher, em teleconferência com analistas. Segundo ele, a retomada do crédito, mudanças na composição da carteira e melhorias em custos e serviços vão contribuir para isso.
Caffarelli, do Banco do Brasil, também apontou uma tendência de melhora nas operações de empréstimos e financiamentos e nos resultados de forma geral. “O caminho para os próximos trimestres está pavimentado. Tenho certeza de que colheremos novos ganhos”, afirmou.
Fonte: ibrafi.org.br